Outrora era diferente. Atualmente já penso na compra de um trenó, ou mesmo qualquer carrinho deslizante, vá lá; e isto para quando o inverno chegar – já venho treinando meu cão para a função do puxar. Do modo que as coisas andam se exibindo, pela maneira a qual a natureza anda alvorotada, possante neve bem pode futuramente cá dar os frios ares; mesmo aqui, onde uma tropicalidade regular costumava sempre se apresentar.
Outrora era diferente. Hoje já penso em usar capacete na rua, intuito de evitar telha voadora de súbito temporal; aliás, quando o vento assovia mais forte, ou ainda quando qualquer nuvem se atreve a cobrir sol por mais de minuto, já evito pisar estrada. Fruto disso tudo, já andam proferindo que tomo de exagero a situação, que vivo de paranoias, de devaneios; ou mesmo que tais atitudes não cabem a um homem são. Todavia, somente replico que, de toda forma, acertando ou não, já vale a precaução. Seguro morreu de velho, velho e louco, dizem alguns; mas, precavido que era, bem perdurou.
Outrora mundo era mais tranquilo, era diferente. Hoje, quando de tanto calor, na rua, já ando me banhando em qualquer poça d’água que cruze caminho. E nem importo com olhos alheios, confesso, desde que tome do refresco tão necessário o corpo. Outrora temperatura não derretia tanto, não derretia tudo, não desconsertava o todo. Calor, com uns goles de refresco, sempre findava, passava, aliviava.
Pois outrora, pedaço de morada raramente desmanchava, ou nadava; ponte dificilmente caía, estrada nem sempre sucumbia. Outrora água só em rio pairava; telhado não fazia concorrência a passarinho, poste mal tinha coragem de atravancar caminho; o tempo, ah, o tempo, este tratava tudo com bem mais carinho. E outrora tão absurdas palavras nem caberiam; isto, claro, lá - outrora. Outrora era diferente; outrora este mundo nem era tão demente; e essa gente, bem se sabe, nem tão inconsequente. O perro, de todo modo, continuará a treinar.