domingo, março 22, 2009

Ensaio sobre a pedra

A pedra, assim por cima, não parece representar muito.Traz, contudo, em olhar mais intenso e minucioso, significado mais imponente do que aparenta. Certo, certo, fica ali, parada, sem dizer palavra alguma - inerte. Não se iluda, perspicaz leitor, ela o engana. A tal pode, por exemplo, sem muito esforço, servir de banco oportuno para um cansado andarilho. Tornar-se, bem como, futuro ninho romântico de formoso casal, numa encantadora casa rústica – pedra sobre pedra, uma aqui, uma ali, outra acolá.
Não a desdenhe, não. Ainda, numa súbita emergência, num caso de repentina ventania, lhe cabe o glorioso papel de segurar
irrecuperável papel à mesa. Numa semana agitada - para melhor expressar singela tese - prender aquela porta que insiste em ranger por noite toda, privando-o de merecido sono. Ou então, dia desses, sem reclamar, e com o intuito de evitar maiores mazelas, garantir a segurança de seu caríssimo carro em ladeira perigosa. E pode, ainda, porque não, servir no bodoque da criança que se diverte e treina tiro ao alvo em latinha enferrujada.
Em dia de descanso, também ser atirada em beira de rio para passar bem o tempo e o pensamento, ou, bem como, ser arremessada em janela de donzela para revelar amor bonito. Não menosprezes a pedra tu. Dela, certa vez, tiraram fogo, fizeram martelo e tantos utensílios, tantos que nem atrevo contar. Noutra feita, em tempos também antigos, usaram-na ainda para revelar pecadores. Certo que, de quando em quando, como proferem por aí, fica no caminho, faz-nos tropicar, cair com os dentes. Mas não, não ouses ser duro com a pedra, indignado leitor. De dureza, de plena certeza, ela entende bem.