segunda-feira, julho 19, 2010

Das brincadeiras

O guarda-chuva é, de boa certeza, uma bela traquinagem do Criador. Pois, em demasia, e sem dó algum, nos faz cair em extraordinárias peças.  Por certo, curioso objeto: ninguém pensa em comprá-lo quando o sol se tem; e ninguém costuma pagar o abusivo preço quando a água de repente vem.
E bem deve ser uma das brincadeiras favoritas do Pai. Este, lá de cima das nuvens, se cabe assim dizer, deve cair em copiosas risadas ao olhar as intrépidas aventuras de quem se refresca cá embaixo sem a mínima intenção. Ou por acaso já não passaste tu, leitor, por maus bocados quando teu suposto aparador de águas se abriu ao contrário numa ventania bem molhada, fazendo-o de tolo, bem em frente à pequena que até então pensavas flertar um dia? Ou noutra feita, então, não sofreste quando, subitamente, assim, quase ironicamente, este tal resolveu emperrar-se naquela repentina tempestade, lhe trazendo um infindável dilúvio?
“Usar somente por três vezes” devia vir ali escrito no cabo. Pois não, não se atrevem a perdurar mais do que isto. O meu, de arriscada atitude, ousei usar quatro. Arrebentou-se de imediato, fazendo com que aqueles malquistos e fraquinhos ferrinhos adentrassem o pano escuro sem piedade, desmanchando-se  sem prévio aviso.

Assim, ironicamente, adentrou-me também bela gripe. O guarda-chuva, sem muito remorso, ao lixo se foi. E, fruto dum permanente tempo bom que aqui faz, não me encorajo a comprar outro. Aliás, talvez, pruma próxima necessidade, já me vem à mente a idéia de adquirir, sim, uma reforçada e amarela capa de chuva, junto daquelas colegiais botas de borracha. Intuito, claro, de escapar também das poças – outra corriqueira brincadeira do Comandante do universo.