sexta-feira, junho 10, 2011

Dos caminhos encontrados

A vida, com certo intuito de driblar uma corriqueira amargura, e num processo automático de equilíbrio, às vezes encontra inusitados caminhos. E podes rir, leitor, mas já lhe advirto, há de acontecer contigo, e não falo de maldade: caí. Foi um destes tombos abissais, destes de deixar envergonhado o maior dos sem-vergonhas – e não, não o sou.
Caminhava assim – disperso, olhando pro alto. Visava recém construído e esplendoroso prédio aqui do bairro. E, fruto disto, não percebi, ali pelo chão, o benéfico plano da existência que sucedia: destemida pedrinha de rua resolvera, assim como quem não quer nada, levantar um tantinho, somente um tantinho – o necessário.
Tropiquei como um bobo, um pateta, um tolo, um boboca – escolha. Então, ali, logo em frente, no ponto de ônibus, ninguém ousou segurar gargalhada. Riu a velhinha de bengala, que levava lacrimosa neta ao colo e, por decorrência, também riu a tal netinha; riu um senhor que tinha cara de mal-humorado e riu um real mal-humorado; riu o cansado motorista de ônibus que chegava por lá e também um desesperançoso moleque vendedor de guloseimas.
Por fim, notei, bem como, não sei se pelo fato de ter batido cabeça ao chão, e vindo dos lados da tal pedrinha, uma contida e satisfeita risada. Pois sim, a vida acaba, em momento ou outro, encontrando estranhos e efetivos amenizadores dos males. E não, não penses tu, leitor, que não terás teu dia, tua hora, teu inevitável momento de distraído benfeitor também.