terça-feira, maio 05, 2009

Dos relacionamentos

Despedi-me passando os lábios em sua boca. Ela não disse nada, não conseguia dizer nada. Certa velhinha, que cruzava ali, olhou-nos com reprovação de pecado. E que pecado, leitor. Tu, que conheces as quenturas da vida, e quando necessitas, bem sabes o que estes tipos são capazes de fazer em ti, ou por ti. Ali fora, outros intrometidos olharam-nos com desdenho. Nunca amaram – reclamei – vão embora. Pela cintura, segurei-a com imensa força – tentativa de resgatar algo que não via já há muito, se entendes o que profiro. Cena triste, cena triste por certo – odiosas despedidas. Ela ainda tentou me oferecer algo, mas não era o bastante. Não, já chega, gritei – mais pra mim do que pra ela. E, quando a larguei – talvez numa última tentativa de convencer-me do contrário, pensei mais tarde – ousou beijar-me joelhos e, em seguida, num doloroso momento, os pés. Contudo, de súbito, sem palavra alguma, decidiu rapidamente partir. E não olhou pra trás, não cabia fazê-lo, não podia. Naquela imensa ladeira em que a vida nos colocara, não conseguiria voltar a tal latinha de cerveja.